Manifesto

Igreja Satanista Brasileira

Aos que ousam pensar. Aos que recusam ajoelhar-se. Aos que fazem da lucidez um altar e da vontade um caminho.

Erguemos este manifesto como marco da fundação da Igreja Satanista Brasileira — não como templo de adoração, mas como espaço de afirmação. Não se trata de culto ao Satã mitológico, mas da assunção plena do seu símbolo: a negação do jugo, a rebeldia contra a mentira sagrada, a exaltação da autonomia consciente.

Somos satanistas ateístas. Rejeitamos deuses externos, salvadores invisíveis, promessas de paraísos póstumos. O inferno está aqui — e nós aprendemos a caminhar sobre ele sem medo. Em vez de dobrar os joelhos, cultivamos a postura ereta do pensamento livre. Em vez de fé cega, escolhemos a dúvida lúcida. Em vez de dogmas, preferimos a crítica constante, que afia a mente como lâmina contra os ídolos.

Na tradição profana de Satã — não como entidade literal, mas como arquétipo de rebelião, lucidez e potência — encontramos um espelho do humano que não se submete. Ele representa aquele que pensa, que recusa o mandamento imposto, que rasga os véus do sagrado para tocar a carne do real. Satã é o símbolo da insubmissão diante do absoluto e da coragem de assumir-se como próprio senhor.

Nossa ética nasce da autonomia e se sustenta na responsabilidade. Rejeitamos a moral de rebanho, o medo travestido de virtude, a culpa usada como corrente. Cada indivíduo é seu próprio juiz, sua própria medida, seu próprio projeto. Cultuamos o corpo, a vontade e a consciência como expressões sagradas da existência — não há céu acima de nós, apenas a vastidão da experiência a ser explorada com lucidez e intensidade.

Somos brasileiros e enraizados nesta terra. Nossa visão não é importada, nem espelhada nos delírios de seitas estrangeiras. A ISB é uma criação original, gestada na realidade concreta de nosso tempo e país. Não romantizamos Satã como popstar do submundo nem o reduzimos a ícone gótico de vitrine. Aqui, ele é ideia viva — símbolo filosófico de um pacto com a liberdade lúcida e responsável.

A Igreja Satanista Brasileira é comunidade de livres pensadores, não de crentes. É espaço de construção, não de salvação. É proposta de vida que celebra o aqui e o agora, o corpo e a mente, o desejo e o limite, o eu e o mundo — sem pedir desculpas à metafísica.

Nosso altar é a consciência. Nosso ritual é a razão. Nossa prece é o ato. Nosso céu é a liberdade.

Se Satã foi o primeiro a dizer "não", nós somos os que continuam dizendo "sim" à dignidade de pensar por si.

Que assim seja. E assim se faça.

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